POUCA TERRA
Lugar do Meio é um lugar à beira do silêncio, mas ainda tem
estação de comboios. Tem pouca gente, é certo, e fica tão distante de Lá Longe
como de Bem Longe Daqui. Os habitantes de Lugar do Meio encontram na estação a
sua casa, esperando que os comboios lhes tragam, por fim, uma razão para
acreditar na felicidade.
Quem ali chega de comboio tem já hora de partida marcada. Apenas conseguimos
vê-los, porque um passageiro em viagem é obrigado a sair na estação de Lugar do
Meio para mudar de comboio e seguir até ao seu destino. Um comboio que é
sucessivamente adiado, forçando o viajante a parar, a escutar e a olhar,
ocupando, no banco da estação, o lugar que o espectador ocupa numa sala de
teatro.
Porque o silêncio se instala de vez e apenas se vêem os
comboios que passam sem parar, chega a hora de cada um mudar a agulha do seu
próprio trilho, movendo-se, então, mesmo que seja para lugar nenhum, mas atrás
da sua própria felicidade.
Fruto de um processo de improvisação fundado na seguinte
lógica de premissas, música – ritmo – corpo – emoção – acção, e onde os actores
se desdobram em várias personagens com sons, texturas e acções diferentes, mas
todas em situação de espera, o espectáculo oferece ao espectador a possibilidade
de viajar por emoções, assim como a música nos permite viajar sem sairmos do
sítio.
Interpretação: Filipe Eusébio e Sara Gabriel
Espectáculo estreado dia 23 de Maio de 2011 no Fundão
(Auditório da Moagem).