OS TEMPOS ESTÃO A MUDAR
Pela guitarra de Jerónimo ainda se consegue hoje ouvir "Don't think twice, it's all right" como se fosse ontem. E ontem são os tempos que estão a mudar... Figura incontornável da cidade, no seu tamanho grande e forte, cabelo grisalho apanhado atrás e chapéu "estilo americano", Jerónimo personifica a última história desta cidade.
Logo aos dezoito, interminavelmente, ouviu e praticou um Dylan que cantava a liberdade, a mudança, a força ou o desespero do ser humano e acabou a ganhar a vida em bares de Lisboa, como o Johnny Guitar. Ele não o imita, não, transporta-o, evoca-o. E pensamos isto mesmo: o teatro não trata de imitar mas de fazer viver outra vez, sendo que, para tal, por vezes, temos mesmo que trair a realidade que conhecemos. O seu sotaque serrano é o tom cerrado, rasgado do americano. Pedimos-lhe que toque uma vez mais "Hurricane". Ele responde, "oh!, essa música ouvia-a durante dois anos seguidos, todos os dias!...", e rebentam os inconfundíveis acordes, como se fosse a primeira vez.
Em "Os tempos estão a mudar / The times they are a-changin'", a Estação Teatral intensifica aquilo que vem chamando de exercício sobre a não-distância, sabendo que, para haver teatro, é sempre necessário guardar um espaço/tempo entre o ver e o fazer, entre a realidade representada e a realidade da representação, entre o corpo do ser e o da personagem. Aqui, Jerónimo será o actor e, simultaneamente, a personagem. Sê-lo-á, para contar de si, do que é esperar ou desesperar numa pequena cidade do interior, da paixão e do querer que nos faz "chegar lá" quando nada parece querer estar a mudar.
Dramaturgia e Encenação: Nuno Pino Custódio
Assistência de Encenação: Tiago Poiares
Espaço e Figurinos: Ana Brum
Desenho de Luz: Pedro Fino
Interpretação: Jerónimo Mateus, Roberto Querido, José Emilio Martins e Carlos Carrola