A AVENIDA, uma chama viva onde quer que viva
Fosse essa a de Salazar ou a da Liberdade,
da "serração", da "escola" ou do "cavalo"
(fazendo alusão ao bicho alado da Mobil bem saliente na antiga gasolineira), a
avenida era um rasgo que subia-para-cima, confiando a visão para a cortina de
fundo composta pelos múltiplos verdes da serra, tal como, inversamente, descia
afinal em modo quase horizontal até à cortina de fumo dos comboios e das
chaminés da Moagem. Por essas bandas, já se usava a expressão "inclinado
como a Avenida", para referir a estante suspensa na parede que ficara
descaída e que não merecia a consideração de um ajuste: – Deixa assim, deixa
assim, já está bem. Fica inclinado como a Avenida!
Quando foi gizada, em meados do século passado na orla da cidade empoeirada pelo tabique dos casarios e pela cal da igreja matriz, foi como que, afinal, se tivesse aberto uma urbe ao meio. Agora, antigo e novo precisariam de dar as mãos para atravessar a estrada.
Ao longo de meio quilómetro de recta, contadas dos dois lados setenta e oito tílias (fora a que está doente), os correios, o alfaiate, o antiquário, a gráfica, a loja de produtos agrícolas, as papelarias, as mercearias, os cafés, o estilista, a seguradora, a agência de viagens, os bancos, a florista, os cabeleireiros, o teatro, a farmácia, as relojoarias, as ópticas, as lojas de electrodomésticos, a dos tinteiros, o rent-a-car, a rádio, as lojas chinesas, a das bicicletas, a bomba de gasolina, as casas de banho públicas, o estúdio de fotografia, a praça de táxis, a auto-gare, a clínica médica, a esteticista, o restaurante, o pronto-a-vestir, a sede do partido, a lavandaria, as lojas de telecomunicações, os quiosques, o escritório de advogados... toda esta parafernália de serviços e expedientes e afins tornaram possível o outro hemisfério, como um novo cérebro que cresce e se desenvolve em cima do anterior. Depois disto, não sobram dúvidas, uma cidade esclarece-se: vai desenvolver-se ou vai quedar-se deprimida por causa da passada maior que o passo? O tempo certo de uma avenida nova é o do visionário, não o do megalómano. E, entretanto, o acaso.
A ESTE, no ano do seu 15º aniversário, inicia uma trilogia em torno da principal avenida da sua cidade, naquilo que vem chamando de “exercício em torno da proximidade”. Entre a ficção e a realidade, o íntimo e o público, o próximo e o distante, o quotidiano e a memória, um exército de beirões composto por lojistas, industriais, trabalhadores, patrões, mercadores, gente anónima vinda dos campos ou de um recanto da cidade dão corpo a uma narrativa que quer, na sua universalidade, reflectir sobre o espaço da cidade e, inevitavelmente, sobre a utopia e a felicidade.
Prosseguindo a sua metodologia própria, dentro dos processos de criação colectiva e interpretação que a caracterizam, a companhia promoveu uma extensa investigação relativamente à linguagem total do corpo do actor e a uma visão hodierna do teatro que quer enfrentar grandes questões deste mundo pós-moderno onde, entre outras problemáticas não menos urgentes, os conceitos de actor e espectador, assim mesmo entendidos convencionalmente, estão de tal forma em crise que urge reinventar a própria ideia de espectáculo.
“Uma chama viva onde quer que viva” é a
primeira parte do tríptico denominado “A Avenida” e incide sobre as décadas de
40 e 50 do século passado. Em 2020, a companhia estreará “De Salazar a
Kubitschek”, abordando os anos 60 para, finalmente, na década seguinte, os anos
70, terem um último fôlego em 2021 com o espectáculo final, “Liberdade”. A ESTE
conta ainda fazer uma versão única composta por esta três versões, expondo,
assim, uma criação que compreenderá cerca de três anos entre ensaios, evoluções
e apresentações.
Dramaturgia e encenação – NUNO PINO
CUSTÓDIO
em co-criação com:
CARLOS PEREIRA, DIANA TABORDA, HELOÍSA SIMÕES, JOANA POEJO, TIAGO SARMENTO e TIAGO POIARES – interpretação,
PEDRO NOVO – espaço,
PATRÍCIA RAPOSO – figurinos e adereços,
PEDRO RUFINO – direcção musical
e PEDRO FINO – desenho de luz
Direcção de produção – ALEXANDRE BARATA
Direcção de montagem – PEDRO FINO
Montagem – ATELIER PEDRO NOVO com JOÃO
FREITAS
Produção executiva – FRANCISCA VIDAL
Design de comunicação – HUGO LANDEIRO
DOMINGUES
Fotografia – MIGUEL PROENÇA
Confecção de guarda-roupa – ALFAIATARIA
JUVENAL e MANUELA CARVALHO
Agradecimentos: Alberto Diogo, João Caria, João Barroca, Joaquim Mendes Caldeira, Carlos Alberto Melo, João Juvenal, Fernando Gonçalves, João Paulo Gonçalves, Lurdes Tripa Gonçalves, Vítor Figueira, Zélia Moreira, José Carlos Moreira, Fernando Carrolo, Carlos São Martinho, Lídia Frazão, Dina Matos e Eduardo Ribeiro.
2019
28_NOV a 15_DEZ_FUNDÃO / AUDITÓRIO
DA MOAGEM
2020
24_JAN_ CASTELO BRANCO / CINE TEATRO
AVENIDA
31_JAN_TONDELA / ACERT
Em agenda
12_DEZ_POMBAL / CINE TEATRO DE
POMBAL