A Avenida:Liberdade

A Avenida:Liberdade


ESTAÇÃO TEATRAL ESTREIA TERCEIRA PARTE DA TRILOGIA “A AVENIDA”

 

A ESTE – Estação Teatral estreia no próximo dia 4 de Novembro, no Casino Fundanense (Fundão) a sua 42ª criação. Trata-se da terceira parte da trilogia dedicada ao Fundão e à sua Avenida intitulado “A AVENIDA: Liberdade”. O espectáculo estará em cena até dia 21 de Novembro (de 5ª a sáb. às 21h30 e domingos às 17h00) viajando depois para Castelo Branco/Cine Teatro Avenida (3 de Dezembro), Almada/Fórum Romeu Correia (11 de Dezembro e Guarda/Teatro Municipal da Guarda (27 de Janeiro de 2022).

“A Avenida: Liberdade” conta com dramaturgia, encenação e espaço de Nuno Pino Custódio, num processo de co-criação com Andreia Galamba, Carolina Cunha e Costa, Cuca M. Pires, Samuel Querido (actores) e Dário Cunha (interpretação e direcção musical), Patrícia Raposo (figurinos) e Pedro Fino (desenho de luz),

Criando um espectáculo conceptualmente diferente no que concerne aos anteriores, mas percorrendo a linha narrativa para a última década do segmento proposto, a década de 70, a terceira parte da trilogia “A Avenida”, com o subtítulo “Liberdade!” reúne dramaturgicamente três coordenadas: a situação crítica de isolamento e subdesenvolvimento de um Portugal profundo, rural, nos últimos anos do regime ditatorial (que perdurava há cerca de quatro décadas); as marcas visíveis, as mudanças imediatas do dia 25 de Abril na vila do Fundão, tendo como elemento de referência espacial a Avenida Salazar (que passaria meses depois a intitular-se “da Liberdade”); e, finalmente, o que significou esta ruptura para uma família da aldeia do Telhado, na Cova da Beira, a poucos quilómetros da urbe. Aldeia (num contexto de uma miríade de outras aldeias vizinhas) onde a pobreza, o desemprego, o problema da guerra do ultramar, a emigração, a fome, o analfabetismo, a falta de saneamento básico e de condições de saúde colocavam as suas gentes como que num estado praticamente medievo e apático. Seguramente, forjando “portugueses de segunda”. O que significam, então, conceitos como “liberdade” ou “democracia” para quem não sabe ler ou ingere álcool para obter calorias para o trabalho ou não teve contacto com os mecanismos de um Estado de Direito e as garantias fundamentais baseadas no chamado Princípio da Dignidade Humana?

Este projecto “A Avenida”, iniciado em 2019, procura ser um retrato social e político de um país distante mergulhado em atavismos muitos e debaixo de uma repressão política, moral e social tão profunda que, para milhões de pessoas, só cabia emigrar, fugir ou morrer.

 

UMA HOMENAGEM AO JORNAL DO FUNDÃO

Importa referir que a “A Avenida”, inicialmente projectada para o desenho de uma só dramaturgia, acabou por se desdobrar num tríptico, depois de, no processo de criação, a riqueza que consistiu a consulta exaustiva do Jornal do Fundão ter apontado uma abordagem que exigia profundidade, maturação e tempo de exposição de elementos que permitiam a riqueza dada por eixos dialécticos com o objecto central em questão. Como a ruralidade, os campos, a serra, nessa articulação com o impulso urbano e moderno da principal avenida da cidade. O diálogo com a realidade circundante ou a situação de interioridade de uma cidade, de uma “ilha sem barcos” implica a inclusão deste contexto por vezes dicotómico.

A trilogia “A Avenida” é, assim, a mais justa homenagem que a companhia pode fazer a este jornal absolutamente precioso e raro. Precioso e raro para o seu país, para os aqueles que emigraram, para as pessoas simples da região (mesmo as que não sabiam ler…) e para intelectuais e académicos nas grandes cidades. Homenagem que cabe, agora, neste ano, na comemoração dos 75 anos da sua fundação. Mais do que ter-se retratado o jornal, o jornalismo e os jornalistas (como António Paulouro), a homenagem da Estação Teatral cabe nesse verdadeiro tropismo provocado pela consulta das suas infindáveis edições, desde 1946. A organização editorial, a qualidade (por vezes literária) da escrita, o compromisso com uma região melhor, um país melhor e UM MUNDO GLOBAL MELHOR, assinale-se!, influenciaram o projecto em si, conduzindo a dramaturgia por novos caminhos que nos levaram até aqui.

A discussão acerca da liberdade que este jornal foi suscitando nos grupos de trabalho aos longo dos três processos de trabalho leva-nos a questionar, precisamente, a liberdade, HOJE. Um mundo neoliberal numa deriva suicida e autofágica onde as próprias estruturas económicas se destroem, assim como os elos sociais, a diversidade cultural e os próprios fundamentos naturais da vida são a realidade repressiva e deprimida da esmagadora maior dos habitantes do planeta. A criação 42 da Estação Teatral, “A Avenida: Liberdade!”, não se cinge ao acontecimento histórico, longe disso. Trata-se da necessidade de construir um futuro que dignifique o próprio projecto humano.