O CÉU NÃO LHES RESPONDE
“Os vasos que não se enchem de água,
cedo transbordam de pó.”
(Provérbio indiano)
O
que fazer quando é o próprio
clima que nos empurra para fora da nossa terra? E quando a brutalidade dos
regimes autocráticos e da guerra nos expulsa para a incerteza da própria
vida? Quando permanecer se torna impossível só nos resta avançar munidos de coragem e esperança.
Procurar a felicidade num outro lugar. A jornada será sempre longa e cheia de
percalços, mas será sempre melhor do que permanecer num caminho
que apenas vai definhando. A necessidade de sobreviver obriga-nos a avançar,
a contornar os obstáculos e a atravessar as fronteiras,
inclusive as que se encontram fechadas. Um encontro com o futuro, onde a
felicidade de quem parte também
está nas mãos de quem acolhe.
Saeed Karim e Narine
Mossadegh são dois refugiados oriundos de países distintos e imaginários.
Saeed, um refugiado climático, parte do Taralesh em busca de uma vida melhor
deixando para trás a sua família. No Taralesh já não é possivel continuar, a
água potável escasseia, o mar avança e engole incessantemente a terra, e o céu
não lhe responde. Sem alternativa, Saeed vê-se obrigado a partir numa viagem
que o levará a cruzar fronteiras e a atravessar o mar em busca de um lugar para
recomeçar. Consigo leva pouco mais do que a esperança de um dia voltar a reunir
a família. Narine, tal como Saeed e todos os outros refugiados, procura chegar
a qualquer sítio que não aquele de onde partiu e fugir ao regime ditatorial que
se instalou no seu país. No Persequistão o céu já não lhe responde, a liberdade
foi violentamente confiscada pelos “guardiões da moralidade”, as mulheres foram
expulsas da sociedade, separadas nas escolas, riscadas das universidades e
remetidas a uma existência que não lhes concede a possibilidade de serem
livres. Os cabelos foram tapados, os corpos foram cobertos e os rostos
apagados.
“O céu não lhes responde”
relata, através do corpo, do gesto, das emoções, da simplicidade e do jogo
cénico, o percurso de duas personagens que tentam atravessar o mar para o lado
de lá em busca de uma oportunidade. Ninguém deixa a sua terra de ânimo leve mas
noutro país é possível recomeçar. Alcançar as necessidades mais básicas pode
ser extremamente difícil, a barreira da língua, o choque cultural e a
desconfiança de quem os acolhe fazem com que chegar não signifique o fim da
jornada. No entanto, Saeed e Narine não desistem, procuram trabalho, procuram
retribuir e integrar-se num país diferente. Um país que por vezes julga que a
escolha foi deles e onde, por vezes, o céu também não lhes responde.
Espectáculo criado a partir do projecto de mediação de públicos VER-FAZER, desenvolvido com escolas do 1º ciclo do concelho do Fundão no ano lectivo 2021/22.
Encenação e Dramaturgia: TIAGO
POIARES em co-criação com Joana Poejo e Samuel Querido /
Interpretação: JOANA POEJO e SAMUEL QUERIDO / Espaço Cénico: ANA
BALEIA Desenho de Luz: PEDRO FINO / Música e Direcção Musical: PEDRO
RUFINO / Sonoplastia: RUBEN PASCOA e MARTA GARCIA / Banda Sonora: PEDRO
RUFINO (guitarras e alaude árabe); RUBEN PÁSCOA (teclados,
percurssão e voz); FRANCISCO BARATA (voz); JOSÉ BONIFÁCIO
(acordeão) e MARTA GARCIA (teclados e saxofone) / Figurinos: ESTE
/ Fotografia: MIGUEL PROENÇA / Direcção
de Produção: ALEXANDRE BARATA
Agradecimentos: Incubadora
de Música do Fundão e António Supico